Uma confluência de saberes

Ouvi pela primeira vez o termo decolonialidade no final de 2017 numa das reuniões do grupo DICITE. Depois, quando ingressei no mestrado no PPGECT, em 2018,  o termo ganhou centralidade nas discussões das disciplinas também. Para mim era somente um termo como tantos outros que eu ouvia. Minha orientadora, professora Patrícia Giraldi, sugeriu na época que eu dedicasse algumas leituras à compreendê-lo, pensando articulá-lo com a pesquisa de mestrado. Li poucas coisas e não senti vontade de me aprofundar no estudo. Já estava com os olhos voltados para a Análise de Discurso francesa e achei difícil dialogar com as duas teorias. Em dezembro de 2018, durante a organização do  SARAU Educação, Arte, Ciência e Resistência, promovido pelo grupo de pesquisa LITERACIÊNCIAS, me deparei com uma série de representações artísticas (músicas, pinturas, poemas etc.) denunciando relações de colonialidade do ser, do saber e do poder a que foram/ estão submetidos os povos   latino-americanos (e não somente estes). A música Latinoamerica, do Calle 13; De Donde Vengo Yo, do ChocQuibTown; Denúncia, de Dandara Manoela; Antipatriarca de Ana Tijoux; a realidade de Carolina Maria de Jesus; e as escrevivências de Conceição Evaristo são alguns exemplos.
Em 2019 o grupo DICITE passou a incorporar leituras sobre decolonialidade de forma mais sistemática, portanto, foi de fato aí que eu li com mais afinco autoras e autores que tratam desse tema, em especial representantes do movimento Modernidade/Colonialidade. A disciplina ministrada pela profa.Tatiana e pelo  prof. Irlan confluiu com as discussões que estavam acontecendo no DICITE, e contribuiu para aprofundar minhas leituras. Parafraseando Eni Orlandi, para um mesmo texto, leituras possíveis em certas épocas não o foram antes, e leituras que não são possíveis hoje serão no futuro. Digo isso porque tive várias oportunidades de leituras sobre decolonialidade, mas somente no decorrer de 2019, com as discussões no grupo de pesquisa e na disciplina mencionada é que outros sentidos foram possíveis. Diante disso, eu quis em promover um diálogo entre decolonialidade e literatura, e escrevi em parceria com a prof. Patrícia Giraldi, um artigo a partir de dois livros de Carolina Maria de Jesus - Quarto de Despejo: diário de uma favelada e Diário de Bitita. O artigo intitulado Diálogos Inspirados em Carolina Maria de Jesus: Decolonialidade na Formação de Professoras(es) de Ciências, publicado recentemente na revista Educação, Cultura e Sociedade ( v. 9, n. 2, 2019), é o melhor relato que eu poderia ter escrito sobre as contribuições da disciplina para a minha formação docente.
A decolonialidade vem adentrando aos poucos meus pensamentos. Transformou em muitos sentidos o olhar para a minha pesquisa. Mas, confesso que ainda não consigo promover um diálogo sem tensões entre decolonialidade e análise de discurso francesa, mas quem sabe o que me aguarda?
Gratidão Tatiana e Irlan e grupo DICITE pelas oportunidades!





Comentários

  1. Adorei as dicas de músicas e estou ansiosa para ler seu artigo com a Pati. Fiquei pensando aqui no conflito (aparente) entre a AD francesa e os estudos decoloniais. Li não lembro em que texto (acho que foi no TCC da Ana Lara) a expressão "Análise de Discurso brasileira" já que a Eni Orlandi foi uma das principais sucessores do Pechêux e é nossa principal fonte de leitura. De qualquer forma, a AD não questiona pontos centrais para da colonialidade e se sustenta em uma visão/lógica moderna de mundo. Não sei que caminho você vai seguir agora Dionia, mas estou bem curiosa para ver o resultado dessas inquietações e desses diálogos. Bjs
    Ps: sugestão coloca o link para seu artigo no post.

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    1. Obrigada Tati pelas considerações.Pati e eu estamos desenvolvendo essa ideia de utilizarmos a AD brasileira em nosso trabalho, justamente por entendermos que a Eni Orlandi, enquanto referência principal, fala a partir da realidade local, ou seja, a brasileira. Mas seguimos as discussões. Vou postar o link do artigo em breve. Bjão!

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