Sequência Didática: Corpo, ciência e esporte: Encontros e Desencontros. “O Caso Tifanny Abreu na superliga de Vôlei”
Sequência Didática: Corpo, ciência e esporte: Encontros
e Desencontros.
“O Caso Tifanny Abreu
na superliga de Vôlei”
Autores:
Maíra
Caroline Defendi Oliveira e Yonier Alexander Orozco Marin
Doutorandos PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
Objetivo Geral: Promover um espaço de discussão
sobre as possíveis relações entre as ciências naturais (especificamente a
biologia e a química) com questões de diversidade sexual e de gênero,
utilizando o caso da jogadora do time feminino de vôlei Tifanny Abreu como eixo
articulador para promover debate e a construção de posicionamentos
argumentados.
Turmas: Educação de Jovens e Adultos (EJA)
ou Ensino Médio.
Sessões: 4 (Duas aulas em cada sessão).
Avaliação: Propomos uma avaliação do processo
de construção dos argumentos por parte das alunas e dos alunos, e não
unicamente de um resultado final. De maneira mais específica, podem ser
momentos e objetos da avaliação: a) A análise do caso Tifanny na primeira
sessão; b) A apresentação coletiva de um dos casos polêmicos de esportistas de
alto rendimento; c) As perguntas preparadas para as pessoas trans experts; e d)
a construção do argumento final sobre o caso da Tifanny.
Aula 1- Apresentação da temática:
Transgeneridade e esporte
|
Tempo
estimado: 2 aulas de 45 min
|
Desenvolvimento
da Aula:
1º momento: Breve apresentação da
História da Atleta Tifanny Abreu e da sua Carreira
Tifanny Pereira de Abreu é uma jogadora de voleibol
brasileiro que atua como oposto e ponteira. Foi a primeira transexual a
disputar uma partida oficial da Superliga. Tifanny nasceu Rodrigo e jogou em
competições masculinas de vôlei até os 29 anos, quando iniciou a transição de
gênero. Aos 31 anos, começou a jogar em ligas femininas na Itália, já dentro
dos padrões recomendados pelo COI[1]. Hoje ela tem 34 anos e compete
pelo clube Vôlei Bauru. O nível de testosterona de Tifanny é de 0,2 nmol/L,
inferior aos valores de mulheres cisgêneras (entre 0,21 e 2,98 nmol/L).
2º momento: Vídeo Tifanny Abreu:
Jogadora divide opiniões no esporte.
3º Momento: Apresentação da
problemática (a partir do Fanzine)
A partir da leitura do Fanzine sobre o caso Tifanny, as
alunas e os alunos da turma deverão apontar quais são os argumentos dados
como favoráveis e contrários ao caso, além de darem suas opiniões prévias
sobre o caso. A professora ou professor poderá ir anotando no quadro os
argumentos conforme as e os alunos os apresentem. Espera-se que esse momento
estimule uma discussão, onde diferentes ideias, possam ser apresentadas e
debatidas.
|
Aula 2 - Apresentação do conteúdo de Química e
Biologia
|
tempo estimado: 2 aulas
|
Exemplos de conteúdos que podem
ser trabalhados nessa aula
●
Apresentação dos Principais Hormônios Sexuais
Testosterona-
Principal hormônio sexual masculino (Também é produzido pelas fêmeas)
Regula várias funções ao lado da
produção de espermatozóides, como a fertilidade, a massa muscular, a
distribuição de gordura e a produção de glóbulos vermelhos
Perda de pelos no corpo; Perda de
massa muscular; perda de força e aumento da gordura corporal;
Uso injetável em Homens trans
Estrogênio
-Principal hormônio sexual feminino (Também é produzido pelos machos por
aromatase);
Essencial para o desenvolvimento e
manutenção dos tecidos reprodutivos femininos, ossos e pele;
Aumento de peso; Osteoporose;
envelhecimento precoce;
Uso injetável por Mulheres Trans;
●
Apresentação das moléculas das substâncias, apontando suas
semelhanças e diferenças:
TESTOSTERONA
ESTROGÊNIO
●
Apresentação dos cariótipos humanos
Além
desses cariótipos, também existem pessoas XXY, XYY, XXX, XXYY, X0, Y0. É
importante lembrar que cariótipos XX e XY nem sempre garantem o
desenvolvimento de genitais femininos ou masculinos respectivamente, e que a
presença desses genitais nem sempre garante a produção de hormônios que lhes
são associados.
● Apresentação do
principal hormônios para redesignação de sexo de uma mulher trans:
Estradiol combinado com acetato de
ciproterona ou a espironolactona (anti-andrógenos) que pode causar
tromboembolismo venoso (relacionado principalmente com anticoncepcional e
estradiol via oral), cálculos biliares, ganho de peso, doença cardiovascular,
hipertensão e hiperprolactinemia ou prolactinoma (tumor na hipófise produtor
de prolactina).
●
Tempo para transição
●
Mudança de sexo em diversas espécies
Diversas
espécies no mundo animal podem fazer essa transição entre macho e fêmea, por
variação hormonal, variação de temperatura, modificação na composição da
comunidade e exposição a pesticidas, por Exemplo, a espécie Xenopus laevis.
●
Como ocorre a cirurgia de mudança de sexo na mulher Trans:
1.Os médicos removem os testículos
e preservam a pele da bolsa escrotal. Eles também retiram grande parte do
pênis, mantendo o tecido nervoso que o reveste
2. Esse tecido nervoso, incluindo
o da glande, ajudará a construir o clitóris. O canal urinário também é
mantido
3. Depois, os cirurgiões fazem uma
incisão entre o reto e a bexiga. Esse espaço abrigará a neovagina
4. Nessa cavidade, eles acomodam a
pele do pênis e a da bolsa escrotal, agora com a aparência de uma manga de
camisa
5. Isso dará uma profundidade de
cerca de 15 cm e revestirá a neovagina. Os folículos capilares de todo esse
tecido são cauterizados, o que impede que pelos nasçam lá dentro
6. Todos os demais tecidos são reposicionados
e remodelados. O que restou da bolsa escrotal redefine os lábios. Os médicos
fixam o clitóris a partir da glande e de outros tecidos sensitivos e
vasculares do pênis. O canal urinário é diminuído e reposicionado
Outros
conteúdos também podem ser problematizados, como:
●
uso de anabolizantes e anticoncepcionais;
●
sistema reprodutor
;
●
outras substâncias químicas envolvidas no processo;
●
cirurgia plásticas e o uso das tecnologias a favor do bem
estar trans;
|
Aula 3- Outros casos polêmicos
para o esporte
|
Tempo
estimado: 2 aulas
|
Desenvolvimento
da aula:
Nessa aula serão apresentados às e aos alunos outros casos
polêmicos no esporte envolvendo supostas “vantagens” de alguns atletas. Esses
casos serão utilizados para a explicação de alguns conceitos como: sexo
biológico, gênero, identidade de gênero, cisgeneridade, hormônios,
transexualidade, intersexualidade etc.)
Para dinamizar a aula, os alunos e alunas podem ser
divididos em grupos, onde cada grupo fica responsável por um dos casos a ser
estudado. Posteriormente cada grupo apresenta o caso aos demais colegas,
gerando a discussão. A introdução de conceitos pode ser feita pela professora
ou professor, à medida que as dúvidas forem surgindo. Espera-se promover
discussões também em relação a elementos como raça, etnia, relações
geopolìticas e classe social na análise dos casos.
Os casos
a serem estudados são:
1- Maria Joaquina Cavalcanti Reikdall, de 11 anos,
é uma criança transexual e foi impedida de competir na categoria
internacional do Campeonato Sul-Americano de Patinação Artística apesar
de ter ficado na segunda posição do campeonato brasileiro.
2- Maria Patiño foi campeã nacional de Espanha dos
100m barreiras (Atletismo), tendo travado uma enorme luta nas pistas e nos
tribunais para fazer valer a sua feminilidade, depois de em 1985 lhe ter sido
detectada no organismo, durante as Universíadas de Kobe, Japão, a presença de
cromossomas XY, próprios do género masculino(?), o que a fez perder o
currículo desportivo que a tinha levado, inclusive, a participar no Mundial
de Atletismo de 1983, em Helsínquia, Finlândia.
3- Caster Semenya,
sul-africana, dona de dois ouros olímpicos e quatro pódios em Mundiais, pode
ser impedida de competir contra mulheres em provas de atletismo de até 1.500m
devido a sua alta produção de testosterona.
4- Michael
Fred Phelps é um nadador americano, conquistou trinta e sete recordes
mundiais e conquistou o maior número de medalhas de ouro (oito) olímpicas em
uma única edição, feito este realizado nos Jogos de Pequim, na China, em
agosto de 2008. Apresenta algumas características físicas que favorecem o nado.
5- Patricio Manuel é um boxeador
profissional americano. Em 2018, ele se tornou o primeiro boxeador
transgênero na história dos Estados Unidos a ter uma luta profissional.
6- Edinanci Silva, judoca
paraibana, hoje com 41 anos, teve sua feminilidade contestada e precisou
provar ser mulher para competir na Olimpíada de Atlanta em 1996. Na época foi
identificada como hermafrodita[1] e precisou passar por
cirurgia para competir[2].
Material a ser apresentado para os
grupos:
Grupo 1: Caso da Maria na
patinação -Apresentação do vídeo “Menina transgênero luta por direito de
participar de competições de patinação” disponível no link
https://www.youtube.com/watch?v=rEtr3-LTgJQ
Grupo 2: Texto Adaptado[3]
” Masculino ou Feminino?” de Anne Fausto-Sterling[4]
sobre a história de Maria Patiño.
Na correria e excitação da partida
para as Olimpíadas de 1988, Maria Patiño, a principal das corredoras com
barreira da Espanha, esqueceu o certificado médico declarando, em benefício
dos funcionários da Olimpíada, o que parecia patentemente óbvio para quem
quer que a olhasse: tratava-se de uma mulher. Mas o Comitê Olímpico
Internacional (COI) tinha previsto a possibilidade de que algumas
competidoras esquecessem seus certificados de feminilidade. Patiño apenas
tinha que se apresentar ao “escritório central de controle da feminilidade”,
raspar algumas células da bochecha, e tudo ficaria em ordem – ou ela assim
pensou. Algumas horas depois da raspagem, recebeu um chamado. Alguma coisa
não dera certo. Ela voltou para um segundo exame, mas os médicos ficaram em
silêncio. Então, quando se dirigia ao estádio olímpico para começar sua
primeira corrida, os funcionários de pista deram a notícia: ela tinha sido
reprovada no teste de sexo. Ela podia parecer mulher, tinha a força de uma
mulher e nunca tivera razão para suspeitar que não fosse mulher, mas o exame
revelara que as células de Patiño continham um cromossomo Y e que seus lábios
ocultavam testículos. Além disso, ela não tinha nem ovários nem útero.
Segundo a definição do COI, Patiño não era uma mulher. Foi impedida de
participar da equipe olímpica da Espanha. Os funcionários olímpicos espanhóis
sugeriram a Patiño que fingisse um acidente e se retirasse sem dar
publicidade a fatos tão embaraçosos. Diante de sua recusa, a imprensa
européia acabou descobrindo o acontecido e o segredo foi revelado. Poucos
meses depois de sua volta à Espanha, a vida de Patiño se esboroou. Os
funcionários espanhóis lhe retiraram os títulos conquistados e a impediram de
voltar a competir. Seu namorado a abandonou. Foi despejada da moradia
atlética nacional, sua bolsa de estudos foi revogada e, repentinamente, se
viu diante da perspectiva de ter que lutar para sobreviver. A imprensa do
país fez a festa às suas custas. Como ela disse mais tarde, “fui apagada do
mapa, como se nunca tivesse existido. Dediquei doze anos aos esportes.”
Abatida, mas não derrotada, Patiño gastou milhares de dólares consultando
médicos a respeito de sua situação. Estes explicaram que ela nascera com uma
síndrome de insensibilidade ao andrógeno. Isso queria dizer que, embora
tivesse um cromossomo Y e seus testículos produzissem testosterona
suficiente, suas células eram incapazes de detectar esse hormônio
masculinizante. Por isso, seu corpo nunca produziu características
masculinas. Mas na puberdade seus testículos produziam estrógeno (como os
testículos de todos os homens), que, por causa da incapacidade de seu corpo
de reagir à testosterona, provocaram o crescimento de seus seios, o
estreitamento de sua cintura e o alargamento dos quadris. A despeito de um
cromossomo Y e testículos, ela crescera como mulher e desenvolvera formas
femininas. Patiño resolveu enfrentar a decisão do COI. “Eu sabia que era uma
mulher”, insistiu com um repórter, “aos olhos da medicina, de Deus e, acima
de tudo, aos meus próprios olhos”.
Obteve o apoio de Alison Carlson,
antiga jogadora de tênis e bióloga de Stanford contrária ao teste de sexo, e,
juntas, começaram a preparar a defesa. Patiño submeteu-se a exames em que os
médicos “analisaram suas estruturas pélvicas e ombros para decidir se ela era
suficientemente feminina para competir”. Dois anos e meio depois, a Federação
Internacional de Atletismo Amador (FIAA) a readmitiu e, em 1992, Patiño
voltou à equipe olímpica da Espanha, passando para a história como a primeira
mulher a ter contestado o teste de sexo para mulheres atletas. A despeito da
flexibilidade da FIAA, contudo, o COI permaneceu inflexível: ainda que a
procura do cromossomo Y não fosse a melhor abordagem científica ao teste de
sexo, o teste devia ser realizado. Os membros do COI continuam convencidos de
que um método cientificamente mais avançado será capaz de revelar o verdadeiro
sexo de cada atleta. Mas por que o Comitê se ocupa tanto do teste de sexo? Em
parte, as regras do COI refletem ansiedades políticas típicas da guerra fria:
durante as olimpíadas de 1968, por exemplo, o COI instituiu o teste
“científico” do sexo em reação a rumores de que alguns competidores do leste
europeu tentariam obter glórias para a causa comunista trapaceando – homens
disfarçando-se de mulheres para obter vantagens ilícitas. O único caso
conhecido de um homem que se infiltrou numa competição feminina ocorreu em
1936, quando Hermann Ratjen, membro da Juventude Nazista, participou da
competição de salto em altura como “Dora”. Sua masculinidade não foi de
grande valia: chegou às finais, mas em quarto lugar, atrás de três mulheres.
Embora o COI não tivesse exigido a moderna análise de cromossomos no
interesse da política internacional até 1968, já vinha policiando o sexo das
competidoras olímpicas num esforço para aplacar aqueles que temiam
que a participação das mulheres no esporte as transformasse em criaturas
masculinizadas. Em 1912, Pierre de Coubertin, fundador das olimpíadas
modernas (das quais as mulheres foram, de início, excluídas), afirmou que “os
esportes femininos [eram] contra as leis da natureza”. Se as mulheres não
eram por natureza competidoras atléticas, então o que dizer das esportistas
que chegavam à cena olímpica? Os funcionários das olimpíadas se apressavam a
certificar a feminilidade das mulheres cuja participação permitiam, porque o
ato mesmo de competir parecia implicar que elas não podiam ser mulheres de
verdade. No contexto da política de gênero, o policiamento do sexo fazia todo
sentido.
Até 1968 as mulheres que competiam
nas Olimpíadas eram frequentemente convidadas a desfilar nuas diante de um
corpo de examinadores. Seios e uma vagina era tudo o que se necessitava para
certificar a feminilidade. Mas muitas delas reclamavam que o processo era
degradante. Em parte pelo aumento dessas reclamações, o COI decidiu fazer uso
do moderno teste “científico” do cromossomo. O problema, porém, é que esse
teste, e também a reação em cadeia de polimerase, mais sofisticada para
detectar pequenas regiões do DNA associadas com o desenvolvimento de
testículos que o COI usa hoje, não podem fazer o que o COI quer que façam. O
sexo de um corpo é simplesmente complexo demais. Não existe o isso ou aquilo.
Antes, existem nuances de diferença, [...] rotular alguém homem ou mulher é
uma decisão social. Podemos utilizar o conhecimento científico para nos
ajudar a tomar a decisão, mas só nossas crenças sobre o gênero – e não a
ciência – podem definir nosso sexo. Além disso, nossas crenças sobre o gênero
também afetam o tipo de conhecimento que os cientistas produzem sobre o sexo.
Os membros do Comitê querem
decidir em definitivo quem é homem e quem é mulher. Mas como? Se Pierre de
Coubertin ainda estivesse vivo, a resposta seria simples: quem quer que
desejasse competir não poderia ser, por definição, uma mulher. Mas esse tempo
já passou. Poderia o COI utilizar a força dos músculos como medida do sexo? Em
certos casos. Mas a força de homens e mulheres, especialmente
no caso de atletas bem treinados, se sobrepõe em certa medida. (Lembre-se que
três mulheres superaram Hermann Ratjen no salto em altura). Embora Maria
Patiño se ajustasse à definição comum de feminilidade em termos de aparência
e força, ela também tinha testículos e um cromossomo Y. Mas por que seriam
esses os fatores decisivos? O COI pode utilizar os testes de cromossomos ou
de DNA para verificar o sexo de uma competidora, mas os médicos com dúvidas
sobre o sexo de uma criança usam critérios diferentes. Eles cuidam em
primeiro lugar das capacidades reprodutivas (no caso de uma menina em
potencial) ou do tamanho do pênis (no caso de um menino). Se uma criança
nasce com dois cromossomos X, ovários, um útero na parte de dentro, mas com
um pênis e uma bolsa escrotal na parte de fora, por exemplo, é um menino ou
uma menina? A maioria dos médicos dirá que é uma menina, a despeito do pênis,
por causa de seu potencial para dar à luz, e intervêm usando cirurgia e
hormônios para confirmar sua decisão. A escolha dos critérios a utilizar na
determinação do sexo, e a escolha de simplesmente fazer essa determinação,
são decisões sociais para as quais os cientistas não podem oferecer regras
absolutas.
Grupo 3: Caso da Sul Africana
Caster Semenya (mulher cis) e o caso do Norte Americano Michel Phelps (homens
cis)
Sul-africana,
dona de dois ouros olímpicos e quatro pódios em Mundiais, pode ser impedida
de competir contra mulheres em provas até 1.500m devido a sua alta produção
de testosterona.
Diferenças
de aborgagem:
Estrutura física e ‘virada de golfinho’: Em 2008, a
agência de notícias Reuters publicou um artigo ressaltando as vantagens dos
ombros largos, do torso e dos braços comprido do nadador, além da
envergadura, das pernas curtas e dos quadris estreitos, que favorecem sua
movimentação na água. O nadador tem o corpo particularmente propício para a
natação. A proporção da altura de uma pessoa para a medida do comprimento da
cabeça até o umbigo é, normalmente, 1,618 (a razão áurea). Michael Phelps
apresenta-a superior a 1,7 — tronco longo, linha de cintura baixa e pernas
curtas. Ele tem braços excepcionalmente compridos, com envergadura de 2,01 m,
desproporcionais para sua altura de 1,93m. Seus pés têm 29,8 cm
aproximadamente, equivalente a calçados número 43. Além disso, Phelps é
portador de hipermobilidade — sua flexibilidade de braços e pernas é
comparável à de um bailarino clássico.
Isso sem contar, claro, no famoso impulso de golfinho do
atleta. “Phelps tem usado isso como arma. A lógica diria que ele não deveria
ir tão para baixo, mas ele deixa os outros para trás nessa última virada[5].
Grupo 4: Primeiro transgênero do
boxe garante vitória na luta de estreia como homem no profissional[6]
O
americano Patricio Manuel, que já competiu como mullher, venceu o mexicano
Hugo Aguillar, neste sábado, na California
Por anos, ele via no espelho uma certa mulher refletida.
Hoje, “Pat” se enxerga como um homem confiante, finalmente confortável na sua
própria pele, seu próprio corpo. Depois de quatro anos de uma cirurgia que
marcou definitivamente a transição de gênero de Patricia a Patrício Manuel, o
primeiro boxeador transgênero conquistou sua primeira vitória já na estreia
como homem no boxe profissional.
Em Índio, na California, Pat Manuel, de 33 anos, natural
de Santa Mônica, venceu, por pontos, depois de quatro rounds, o mexicano Hugo
Aguillar, que soma seis derrotas em seis lutas. No segundo assalto, Patrício
quase caiu duas vezes depois de receber fortes golpes de Hugo. Mas os três
juízes apontaram 39 a 37 para Patrício. Mais do que a vitória no ringue, o
superpena americano comemorou uma oportunidade:
- Espero que minha vitória crie um espaço a mais no
esporte – disse Patricio.
Patrício começou o tratamento com hormônios em setembro de
2013. Em menos de cinco meses, ele ganhou 7kg, barba e viu sua voz mudar.
Mais de dois anos depois da última luta como mulher, Pat foi submetido à
cirurgia, em Salt Lake City, nos Estados Unidos, para remover os seios e
moldar o peitoral. No momento da cirurgia, ele deu a seguinte declaração:
- Eu sou masculino, mas não necessariamente um homem.
Quero ser livre dessas amarras. Mas, porque vivemos em um mundo onde se é ou
homem ou mulher, tive que me transformar. Queria estar apto para competir com
homens.
Quando o dono do clube onde Pat treinava com o técnico
Robert Luna descobriu que ele era transgênero, ele foi expulso do clube. E
Robert, que preparou Patricia em mais de 70 lutas, se afastou dele e do
esporte por um ano depois disso. Apesar de ter recebido respeito e admiração
após a intervenção cirúrgica, alguns amigos também se distanciaram e
possíveis vagas de emprego não aceitaram mais a mulher que tinha sido
entrevistada e que agora era um homem. Mas desde que o Comitê Olímpico
Internacional mudou as regras, permitindo a participação de atletas
transgêneros nas competições, a Federação Americana de Boxe aprovou sua
entrada.
Pat teve que lidar com adversários que se recusaram a
competir com um transgênero. Ele assinou contrato apenas para esta luta do
fim de semana com a empresa Golden Boy, do americano Oscar De La Hoya,
campeão olímpico em 1992. Mas depois da primeira vitória como homem, marcando
a história do boxe e se tornando também o primeiro transgênero homem a
competir profissionalmente nos Estados Unidos, ele espera ter outras
oportunidades e disse que vai voltar.
Grupo 5: Edinanci Silva, a difícil
vida de uma atleta hermafrodita[7]
Edinanci diz ter
descoberto o hermafroditismo em 1996. Uma das principais judocas do país em
todos os tempos, ela se viu no centro de uma grande polêmica em 1996, às
vésperas das Olimpíadas de Atlanta, quando tinha 19 anos. Descobriu-se
hermafrodita. Tinha testículos internos, responsáveis pela produção de
testosterona, hormônio masculino. Com o crescimento desses órgãos, o útero
acabou atrofiado. Tanto que ela nunca menstruou. A família jamais a
questionou sobre o fato, porque não se falava em questões tão íntimas em
casa.
A atleta, por sua vez,
não se preocupava, apesar de sempre ter desconfiado de que havia algo de
errado com ela, já que desde criança era confundida com garoto. “Mas eu não
ligava. Também sempre usei cabelo curto. Gosto assim”, ri ela, que esbanja
gentileza e é muito querida pelos companheiros de esporte — é chamada por
eles carinhosamente de Ed.
Aconselhada por
médicos, foi operada, em abril daquele mesmo ano, para a retirada dos
testículos e do útero. “Eles me disseram que eu corria o risco de desenvolver
um câncer se não fizesse a cirurgia. Fiz por uma questão de saúde, porque de
resto nunca me incomodou em nada”, conta. “As pessoas falam do fato de eu não
poder ter filhos. Não é problema. Já existem tantas crianças no mundo, muitas
delas abandonadas. Além disso, tenho seis sobrinhos maravilhosos. Também
disseram que eu perderia um pouco da minha força, mas não senti diferença.”
De qualquer forma, se
não tivesse feito a cirurgia, Edinanci não passaria num provável teste de
feminilidade para as Olimpíadas. Consequentemente, não poderia competir. Uma
atleta não é considerada mulher se mantiver os testículos. Isso porque a
testosterona produzida por eles a deixa em vantagem em relação às
concorrentes, pois aumenta a capacidade aeróbica, a metabólica, a força
física e a massa muscular. Ou seja, na letra fria das normas esportivas,
trata-se de um doping. Involuntário, mas doping.
Família abalada
O caso de Edinanci
despertou a curiosidade geral e foi amplamente divulgado pela imprensa à
época. Isso, sim, a atingiu em cheio. E não pela invasão de privacidade,
apesar de a judoca ser extremamente tímida. Foi pela família que ela se
ressentiu. “As pessoas acham que me abalei com a descoberta, mas a verdade é
que eu já passei tanta coisa na vida que aquilo foi apenas uma migalha”,
afirma ela, natural de Sousa, sertão paraibano, onde teve uma infância pobre.
“O que eu senti mesmo foi pelos meus pais. Eles acabaram sofrendo muito com a
forma como exploraram tudo. Me informei bastante sobre o problema e expliquei
para a minha família, que entendeu o que aconteceu comigo, mas na época o
sofrimento de todos foi grande.”
Apesar de dizer que
não guarda mágoas de ninguém, a judoca fala com admiração sobre a recepção
que Semenya teve ao voltar ao seu país em meio à polêmica. “Lá, ela foi
tratada como heroína nacional. Comigo fizeram o maior oba-oba. Tiveram
comportamento de bando. Um gritou e o resto foi atrás ”, reprova.
A aparência masculina
e a grande força física costumam lhe causar percalços até hoje no judô.
“Ganhando ou não medalhas, vou sempre para o teste antidoping, em qualquer
competição. E tem gente que ainda vem me falar: ‘Você foi sorteada para o
exame’”, ironiza. Em seguida, porém, ri da situação. “Aceito com tranquilidade.
Vou fazer o quê? Se me recusar, dirão que me dopei. Já chegaram a falar até
que eu usava anabolizante. Nem sabia o que era isso na época. O ruim do exame
mesmo é que você tem de ficar nua na frente de uma pessoa desconhecida (uma
fiscal). De resto, não me incomoda.” Apesar de tudo que já passou, Edinanci
se considera uma pessoa feliz. “Me contento com muito pouco.”
A atleta conquistou
duas medalhas de bronze em mundiais (1997 e 2003) e dois ouros em jogos
americanos (2003 e 2007).
|
Aula 4-
Questão de sexo ou gênero? O que
pessoas trans tem a dizer sobre isso?
|
Tempo: 2
aulas de aproximadamente 45 min
|
1º Momento: será proposto que as e os alunos
elaborem por escrito perguntas/ dúvidas para serem levadas a duas pessoas
expert no assunto sobre pessoas Trans no esporte.
2º momento: Vídeo[1] de
especialista respondendo sobre possíveis dúvidas das e dos alunos e apresentação
de alguns trechos da entrevista realizada com especialista Julian
Ale Mujica possui graduação em Medicina - Universidad
Autónoma De Bucaramanga, Colômbia - UNAB (2009), é Mestre (2014) e Doutore (2019) em Saúde Coletiva
da UFSC. Desenvolve pesquisas no campo das questões Trans
(Transexualidades, travestilidades e transgeneridades), saúde LGB, gênero e
saúde, gordofobia, políticas públicas. Feminista e ativista autônoma do
movimento Trans e lésbico, do movimento gordo, do movimento feminista em
saúde e da frente catarinense pela legalização e despatologização do aborto.
Atualmente está fazendo doutorado em saúde coletiva na UFSC.
Link para acessar o video: https://drive.google.com/file/d/1IQ9ipZqZUx2xlushwUTLWyn8y4MqUUdu/view?ts=5d11945c
Julian Perogaro Silvestrin è Doutorando no Programa de
Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas/UFSC, na linha de pesquisa
Condição Humana na Modernidade. Graduação e Mestrado em Educação Física pelo
PPGEF/UFSC.
3º momento: como encerramento das atividades e avaliação
da SD propõe-se que as e os alunos emitam um parecer técnico decidindo se a
atleta Tiffany Abreu leva alguma vantagem, ou não, em participar de
competições de vôlei em equipes femininas e se deve continuar competindo
nessa categoria.
O ideal é que as e os alunos possam realizar essa
atividade em pequenos grupos de (3 a 4 alunos) para que possam discutir e
construir argumentações. Sugere-se também que o (a) professor(a)
disponibilize a sala de informática para que os grupos possam pesquisar
outros materiais que sejam necessários para a construção do laudo técnico.
Um modelo fictício de como pode ser feito o laudo técnico
esportivo encontra-se em anexo e pode ser disponibilizado para ajudar as e os
alunos a compreenderem o teor da atividade.
De acordo ao conhecimento do (a) professor(a) sobre a
turma, recomendamos utilizar outros instrumentos para produzir o parecer,
como fanzines, teatro, desenhos, cartazes, ou até mesmo, ensaios mais
técnicos, deixamos a seguir um modelo como possibilidade para a construção do
texto. O acompanhamento do (a) professor(a) nesta sessão è muito importante
para orientar a escrita e a forma em que as e os alunos irão sistematizar a
informação.
Parecer
técnico Ministério do Esporte
PARECER
Nº 1 /2019
ASSUNTO: Caso Tiffany Abreu
Brasília, 04 de julho de 2019.
O Comitê Olímpico
Internacional (COI) oficializou ao Ministério do Esporte, juntamente com o
Comitê Olímpico do Brasil (COB) a decisão de (...)
|
[2] Hoje o COI não obriga mais atletas
passarem por cirurgia de sexo para competir, mudança se deu em 2016.
[3] Texto
original Dualismos em duelo Capítulo 1 de Sexing the Body: Gender Politics and
the Construction of Sexuality. Nova Iorque, Basic Books, 2000.
[1] Devido a uma atualização nas regras para a inscrição de
atletas, prévia aos Jogos Olímpicos de Verão de 2016, o COI deixou de exigir a
cirurgia de mudança de sexo e passou a cobrar um ano de tratamento hormonal, em
vez de dois anos. Para competir atualmente, o atleta que passar pela mudança de
sexo, se tornando uma mulher trans, deve manter o nível de testosterona abaixo
de 10nmol/L, por pelo menos 12 meses antes da estreia em competições femininas.
O documento em que o COI define as normas para a participação de transexuais
assume que as condições podem ser reconsideradas a qualquer momento, caso novas
descobertas médicas e científicas sejam feitas.
Adorei! Já estou compartilhando com o grupo daqui do Rio.
ResponderExcluir