Africanização do currículo

Africanização do currículo
Autor: Adamo Devi Cuchedza

Foi a minha primeira experiência com discussões e debates ligados a decolonialidade e o seus subtemas. Essa participação
foi influenciada por um colega da turma de doutorado 2019/1 que durante as nossas conversas falava muito desse termo. Com a
oferta da disciplina condensada de Estudos Decoloniais, Epistemologias do Sul e Temáticas Socioambientais na Educação
Científica e Tecnológica vi uma oportunidade para me inteirar sobre os assuntos tratados nessa área de pesquisa. Fiz a inscrição,
e durante as discussões no decorrer das aulas fui percebendo não somente da resposta ligada ao termo “decolonialidade”, mas sim
de toda uma vasta área de pesquisa/conhecimento. Foram muitos temas apresentados e debatidos nas aulas que fica muito
difícil trazer reflexões de todos eles numa abordagem como essa, então aqui trago uma reflexão sobre os temas ligados a CTS,
CT e Educação ambiental, talvez por serem temas muito debatidos e difundidos na sociedade contemporânea. Hoje em dia,
escutamos vários debates em volta dos temas/questões relacionados com socioambientais, sociocientíficas e sociotecnológicas
como reflexão para a prática docente em sala de aula e muitos estudos apontam situações de dificuldades na parte dos
professores em implementar ou concretizar. Essas dificuldades estão ligadas com a falta de espaço e clareza nos planos e
programas curriculares vigentes nas instituições de ensino onde o seu cumprimento é de caráter obrigatório. Os professores
se veem obrigados a abandonar as possíveis inovações/criatividades apegando-se nas pedagogias tradicionais para atender
as tais exigências das escolas. A leitura do texto da Maria Mineses trouxe algumas reflexões relacionadas com o
ensino e inovação em Moçambique (1), onde em 2004, o sistema educativo moçambicano em resposta da corrida à
globalização introduziu inovações em todo sistema do ensino. Inicialmente para o ensino primário e mais tarde estendendo-se
para o nível secundário. Das inovações criadas dentro do sistema de ensino destacam-se: Ciclos de Aprendizagens; o Ensino Básico
Integrado; a Distribuição de Professores; a Progressão por Ciclos de Aprendizagem; a introdução de línguas moçambicanas; do inglês;
de ofícios e de educação moral e cívica. Essa iniciativa é de louvar, como a própria Mineses destaca no seu artigo. Por exemplo
a questão do “currículo local” (africanização do currículo) implementada no ensino primário aponta como objetivo a formação de
cidadãos capazes de contribuir para a melhoria da sua vida, a vida da sua família, da comunidade e do país, partindo da consideração
dos saberes locais das comunidades onde a escola se situa. Essa realidade no ensino primário em Moçambique já se faz
sentir na medida em que a comunidade local participa e contribui na elaboração dos temas que constituem o programa de
ensino apesar de muitas limitações (por exemplo no quadro apresentado pela Mineses não consta nenhum saber local
relacionado com Matemática). Essas inovações ainda têm problemas no ensino secundário, ou seja, os destinatários que
são os professores, alunos e sociedade não participam na elaboração dos programas curriculares, limitando-se apenas
em cumprir as condições impostas. Para finalizar passo a citar a fala do primeiro presidente de Moçambique Independente
Samora Moises Machel: “A colonização é o maior destruidor da cultura que a humanidade alguma vez conheceu... as manifestações
da cultura longamente supridas têm de reganhar o seu lugar...” (Samora Machel 1978). 

(1) Moçambique oficialmente é designado como Republica de Moçambique, é um país localizado no sudoeste do continente africano, banhado pelo oceano índico. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mo%C3%A7ambique

Figura 1 - Mapa político de Moçambique. Extraído de Land Portal. Disponível em: https://landportal.org/pt/library/resources/mapa-de-mo%C3%A7ambique. Acesso em: 14 jul. 2019)

Força Professores. Tatiana Galieta e Irlan Von Linsingen


Comentários

  1. O texto da Meneses contribuiu muito para pensar a curricularização (nem sei se essa palavra existe) de um olhar decolonial para a educação formal. Vou colocar a referência aqui embaixo.

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